domingo, 21 de março de 2010

Borboletando na Mata: Asas para que?


Visões

E volto ao princípio. Isso tudo começou com uma curiosidade insistente e um bate papo de e-mail com um amigo sôbre um enxame de Monarcas que êle avistou dentro de um terreno baldio, na cidade de São Paulo, na zona sul, perto da embaixada americana, a alguns anos atrás. Foi quando descobri que o algodãozinho do campo (Asclepias curassavica) era primo das asclepias nossas, em Maryland, nos Estados Unidos, e que as Monarcas, embora originárias das Américas, estariam hoje espalhadas pelo mundo inteiro. A sua sobrevivência nas Américas continua ameaçada porcausa da destruição de seu habitat.

As asas das borboletas Monarca me lembram dos desenhos dos tecidos vendidos no Borneo e na costa leste da Africa. Vale a pena visitar o site dos insetos (em inglês) para mais padrões(patterns). 

Asas para quê? Forma segue função ?

A meu ver, pouco sabemos sôbre as borboletas. Sabemos que elas, quando em repouso, quase sempre mantem as asas fechadas, as bruxas as mantem abertas. 
As asas abertas delas podem ter cores mais vivas que assinalam camuflagem ou veneno aos predatores. As asas fechadas enviam sinais subliminares bastante diferentes para as outras borboletas.

Imagine as asas delas construidas em duas camadas feitas de um material fininho e transparente chamado quitina, a mesma substancia que cobre os camarões.

Essas camadas estão esticadas sobre uma teia estrutural composta de veias tubulares que servem para conduzir os liquidos que sugam do polen, das flores, das frutas e do barro. Essas veias tambem funcionam como respiração.

Quem sabe até servem para pensar?

Nos machos, as asas contem escamas especializadas que produzem e soltam feronomas, a androconia que vai atrair as fêmeas.


As asas podem emitir raios ultravioletas que somente serão vistos por outras borboletas através de longas distâncias.

Pesquizas recentes sugerem que os cristais fotônicos presentes nas asas se comportam como luzes de LED.  

Cristais Fotonicos e Coletores Solares

Explica a cientista Fernanda Boletto em seu belo blog Bala magica:
 "...as cores que vemos estampadas nas asas de muitos gêneros de borboletas, como a morfo azul, ... se devem a estruturas nanométricas altamente organizadas (parecidas com plaquinhas). ...Essas plaquinhas fazem com que a luz que bate nelas seja espalhada apenas em certas direções e em certos comprimentos de onda, e é isso que vai definir a cor que veremos. O grau de organização das plaquinhas é parte fundamental desse processo, porque os espaços entre elas são exatamente da mesma dimensão que o comprimento de onda da luz espalhada. ...Os físicos chamam as estruturas nanométricas que espalham luz e causam o efeito de iridescência, de cristais fotônicos. Cada asa de borboleta possui diferentes tipos de cristais fotônicos: alguns mais organizados, que resultam na cor azul, outros menos organizados, que resultam na cor verde..."

Cientistas japoneses e chineses usam o padrão das asas de borboletas como bio-modelos para coletores solares mais eficientes. Testes em laboratório mostram que os coletores solares presentes nas asas de borboletas absorvem a luz de maneira mais eficiente do que as células convencionais.

Só no Brasil, mais de 3.500 espécies de borboletas já foram descritas, e muitas estão ainda a serem descobertas. Hoje pelo menos 57 espécies reconhecidas de Lepidopteras estão ameaçadas de extinção.

A cada dia novas descobertas apontam para os limites do nosso conhecimento dessas criaturas, que a meu ver, são parte peixe, parte pássaro e parte nós.

Pó de fada?
O que me espanta é que continuamos a estimular a cultura da caça delas.

O sociologo polônes Sygmund Bauman dizia numa entrevista recente a revista Cult da UFMG que "a utopia dos caçadores não oferece sentido nenhum a vida, verdadeira ou fraudulenta". Êle fala de nossa modernidade como a era metafórica dos jardineiros que conhecem e sabem como tratar de seus jardins.


As borboletas, como os sapos, são marcadores ambientais pois são extremamente suscetíveis aos abusos meio-ambientais e refletem a saúde de um lugar. Uma única aplicação de agro-toxicos como o famoso Round Up pode destruir gerações inteiras destes insetos, pois destroe a fonte de seu alimento e de suas fontes liquidas, tanto das lagartas como dos insetos adultos.


E aquele pozinho cintilante que fica nos nossos dedos quando pegamos as borboletas "Ai que linda, parece uma fada!", aquele pozinho faz parte integral da pele dela, faz parte de seu sistema auditivo, tactil, do seu sistema sexual.


Cada toque destroe mil escamas – é como se uma lixa de aço passasse com força no nosso braço e abrisse na marra os poros. Ou se alguem puxasse meu cabelo e arrancasse um bocado. Dá pra perceber.

Guia das ilustrações e fotos:
 "Population Genetics" de "Biology Today", um texto de biologia de 1972. Visite tambem o blogue Ajourneyroundmyskull para mais ilustrações divertidas.

Borboletas por ordem de entrada:
Lagarta da Monarca em Asclepias curassavica; Diatheria Clymena ou "88"; Hamadryas Vermelha ou Estaladeira Vermelha; Não identificada na amoreira; Morpho?; Adelpha; Não identificada no pé de mamão; Fritilaria Baunilha do Golfo

Um comentário:

  1. Olá,

    Obrigada pela citação! Para os interessados sobre a física que explica as cores das asas das borboletas, vale também dar uma olhadinha nos comentários do post citado, feitos por especialistas da área.

    Parabéns pelo belíssimo texto sobre borboletas e pelo blog.

    Abraços,

    Fernanda

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